Ensaio Sobre a Angústia.

Moy Jo Lei Ou Baat Jaam Do.

Sobre a Angústia, é importante entender suas raízes. Observando suas causas, ou seja, as experiências que direcionam ao desconforto, há grandes chances de lidar com o mal gerado. O principal, aliás, é lidar com as sensações que a angústia traz, pois uma vez instalada, ela nunca se limita a um aspecto específico; a angústia pode conter em si medo, ansiedade, insegurança, entre outros sentimentos. Por isso, na minha opinião, a análise, no sentido de dividir em partes, é o principal caminho para aprender a lidar com o mal.

Penso que uma forma de lidar com os sentimentos que geram a angústia esteja relacionada a aspectos íntimos da experiência marcial. Aqui, refiro-me à habilidade de se apoderar da arma, onde a pessoa entende que seu corpo pode ser usado de maneira marcial, para isso, toma consciência de forma profunda da extensão de si, seja no sentido físico ou de potencialidades.

Em seguida, uma vez que já se reconhece o potencial, é o momento de pôr em prática. Então, o praticante desenvolve a habilidade de exercer todo o potencial latente.

Por fim, a condição de deter a própria arma. Sendo este o último domínio, cabe ao artista marcial o mais alto nível daquela experiência. É onde, além de entender o potencial e saber usá-lo, por opção e baseado no contexto, não usa.”

Sessão do Nível Superior Final com Mestre Sênior Julio Camacho.

É importante entender também sobre a orientação do movimento, neste caso, a ação de descobrir o potencial, usá-lo e, por fim, apesar da condição, abrir mão. Saiba que a língua chinesa, em geral, trabalha com movimentos não estáticos. Por exemplo, ao falar de energia interna, não me refiro à energia que está dentro do praticante, mas sim àquela que se direciona para dentro.

Assim, entender o caminho que gera a angústia como algo que vem de fora, do meio social, e que reverbera intimamente é o primeiro passo para aprender a lidar com ela. Haja vista como, em geral, o medo ou a insegurança, por exemplo, se originam na relação com o outro. Seja o medo sobre como determinada ação vai reverberar ou a insegurança sobre o eventual apoio ou crítica alheia. Assumir a responsabilidade da ação, entender que nada em si é bom ou ruim, e sim seu uso, é fundamental.

Por isso, apropriar-se do sentimento alheio, assumindo que ele reverberou internamente, é o primeiro passo. Depois, usar o sentimento de maneira a gerar alguma ação benéfica é o seguinte, e, por fim, identificar se é favorável aproveitar ou não o sentimento.

Celebração do Aniversário de Mestre Sênior Julio Camacho, 2020.

Como exemplo prático, lembro-me de Si Fu e Si Mo. Ambos optaram por viver em outro país mesmo após anos em sua nação de origem e com carreiras consolidadas. Imagino que houve muitas críticas sobre a decisão deles e certamente essas críticas foram ponderadas; conhecendo meu Si Fu, acredito que foram justamente as críticas que fizeram com que o processo deles fosse bem-sucedido, uma vez que as ouviram de coração aberto e puderam neutralizar de forma prévia os entraves possíveis.

De toda sorte, assim como Si Fu e Si Mo, estou em vias de me mudar. Pretendo, assim, também direcionar meu futuro para um caminho mais próspero. Em meu caso, as críticas favoráveis ou desfavoráveis ainda me afetam e me fazem perder o foco, mesmo o desafio não sendo ainda tão grande. Mas, apesar do medo, estou animado. Em breve o desafio será para valer, e até lá, vou me refinando.

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